Uma dor cortante. Silenciosa. A agonia descia pela minha garganta, pelo meio do peito, pelo meu estômago, esmagando-me. Sufocando-me.
A minha cabeça latejava. Senti a ilusão chegar mais uma vez: eventualmente iria explodir em mil pedaços cortantes e tudo terminaria.
A pressão desceu pelo nariz, desfigurando-me. Senti-me como um animal pronto a rosnar com angústia.
As lágrimas já não me incomodavam, ao invés disso, aliviavam a agonia, deixando-me fraca.
Queria desistir. E isso ainda me magoava mais. Os meus pés encolhiam-se e tocavam-se enquanto que todo o meu corpo se comprimia numa tentativa desesperada de sobreviver. De reprimir e expulsar a dor.
Odiava cada partícula do meu ser. Odiava não apenas o Mundo ou o Universo. Odiava toda a existência.
Cada vez mais fraca, mais sozinha, sentia-me como um papel que ardeu completamente por dentro mas se manteve inteiro. Pronto a desistir ao mínimo contacto. A se transformar em cinzas, levadas pelo tempo.
Por mais forte que tentasse ser, bastava a melodia recomeçar. Um relembrar e a cascata voltava a rebentar.
Queria mexer-me. “Talvez se fugir, para longe do meu mundo, a dor enfraqueça, confusa com a minha súbita coragem”, eu pensava, estupidamente. Mas eu não tinha essa coragem. Nem força para isso.
Apenas consegui abrir os olhos.
Então, estupefacta, observei o meu redor.
A minha cabeça latejava. Senti a ilusão chegar mais uma vez: eventualmente iria explodir em mil pedaços cortantes e tudo terminaria.
A pressão desceu pelo nariz, desfigurando-me. Senti-me como um animal pronto a rosnar com angústia.
As lágrimas já não me incomodavam, ao invés disso, aliviavam a agonia, deixando-me fraca.
Queria desistir. E isso ainda me magoava mais. Os meus pés encolhiam-se e tocavam-se enquanto que todo o meu corpo se comprimia numa tentativa desesperada de sobreviver. De reprimir e expulsar a dor.
Odiava cada partícula do meu ser. Odiava não apenas o Mundo ou o Universo. Odiava toda a existência.
Cada vez mais fraca, mais sozinha, sentia-me como um papel que ardeu completamente por dentro mas se manteve inteiro. Pronto a desistir ao mínimo contacto. A se transformar em cinzas, levadas pelo tempo.
Por mais forte que tentasse ser, bastava a melodia recomeçar. Um relembrar e a cascata voltava a rebentar.
Queria mexer-me. “Talvez se fugir, para longe do meu mundo, a dor enfraqueça, confusa com a minha súbita coragem”, eu pensava, estupidamente. Mas eu não tinha essa coragem. Nem força para isso.
Apenas consegui abrir os olhos.
Então, estupefacta, observei o meu redor.
Seres inutilmente limpos, roupas esterilizadamente brancas. Objectos ainda mais inutilmente imaculados.
Uma cena muda, cómica.
As caras revelavam confusão. Impotência. Cercavam uma cama enquanto se olhavam, gesticulando e fazendo os instrumentos reluzir ainda mais.
Alguém deitado, revolto em agonia, era o centro de tudo aquilo.
Apesar da minha dor, do meu sufocar, senti necessidade de ver tudo aquilo de perto.
Deslizei até a cama e pairei.
Ninguém me olhou.
Ninguém me sentiu.
Inclinei-me e observei aquele ser. Conseguia sentir a sua agonia de tão forte que era. Ou seria a minha?
Bruscamente, como que tentando libertar-se ou em apenas outro espasmo de dor, a criatura voltou a cara para mim com outro gemido. Eu.
A confusão arrebatou-me e senti-me cair no vazio. Eu, apática. Eu, vazia. Eu, traumatizada.
Apesar das feições desfiguradas pela agonia, reconheci-me. Reconheci a minha dor.
Subitamente algo a brilhar captou a minha atenção, tirando-me daquela queda sem fim.
Voltei a olhar aquelas pessoas, aqueles seres tão diferentes de mim e no entanto, tão semelhantes.
Um olhar denunciou-os. Compreendi.
Todos se interrogavam… Como ajudar alguém que sofre sem causa física?